domingo, 11 de julho de 2010

Copa do mundo e o Direito Penal de Controle dominando o inimigo

Final de Copa, festa para a Espanha, Príncipe e Rainha, a própria nobreza prestigiando o espetáculo, no estádio. Isso tudo me fez lembrar algo.
A Copa, na África, foi um grande encontro de histórias que um dia se cruzaram e até já foram uma só. Colonizadores e colonizados disputando, no gramado, quem "domina o mundo", ao menos pelos próximos quatro anos. Séculos atrás isso era inimagnável.
Voltando um pouco no tempo, temos grandes impérios, que conquistavam territórios, sacramentavam sua hegemonia, tudo por meio da força. Dominavam os povos, por onde encontrassem aquilo que era de seus interesses. Os reis e a monarquia se foram, alguns ainda tentam se manter, pelo menos na pose, hoje. Mas não dominam mais o poder.
Isso me lembra que dentre as várias conquistas que se deram ao longo dos tempos, todas tinham uma justificativa. Até em nome de Deus se justificava o domínio do estranho, do alheio, do desconhecido, do diferente. Século XXI, mudamos os cantores, mas a música continua a mesma.
Engana-se quem pensa que não estamos mais na era das conquistas. As formas de conquista mudaram, mas, no final das contas, sempre o homem buscou e busca dominar o homem. A forma mais brutal e silenciosa que se descobriu de conquistar o território alheio foi a economia. A revolução industrial foi o test drive, mas, hoje, como bem explica o Mestre Zaffaroni, vivemos na era da revolução tecnocientífica. Isso nos remonta a um divisão silenciosa que devasta um número absurdo de pessoas que estão à margem dos nobres, quem domina a tecnologia.
Isso traz uma clara segregação norte-sul, países centrais e marginalizados, que se desenvolvem mesmo nas menores parcelas sociais. Essa separação silenciosa não se opera apenas a esteira de países, nações, mas se corporifica entre Estados, Cidades, bairros e assim se dá a nossa marginalização. A revolução tecnocientífica, que trouxe consigo valores da revolução industrial utiliza a economia e sua concentração como uma bomba atômica, capaz de destruir silenciosa e impessoalmente aqueles que não detêm a técnica, não detêm o poder de consumo, aqueles que não fazem parte da nobreza contemporânea.
A globalização cria uma comunicação intersistêmica que faz com que a bala que atinge um derrube dez e assim a marginalização se opera e a criminalidade prolifera.
Engana-se quem pensa que não há mais grandes batalhas. Apenas trocamos os battles fields, com linda grama verde, por um ambiente virtual, onde nem mesmo os Reis tem controle de sua dimensão. Temos mais derramamento de sangue e menos honra dos guerreiros. Trocamos os grandes exércitos, empunhados de belas espadas, por Polícia e um sistema de controle dos subversívos.
Bobo da corte que não agrada ao rei morre sendo mordido por ratos nas penitenciárias. A violência e a barbárie se institucionalizam e a consciência dos generais fica mais tranquila, pois não precisam mais estar comandando seus homens para um grande confronto, montados em seus cavalos, a frente do grande exército. Ficam em casa, ordens por telefones ou assinaturas em papeis, sem contato com o Inimigo. Assim, o que os olhos não veem o coração não sente.

2 comentários:

  1. Embora o teu texto, bem elaborado, não fale exatamente sobre isso, não custa lembrar que a Copa do Mundo na África, que ficou marcada por vuvuzelas e jabulanis mostrados ao extremo pelos meios de comunicação, em momento nenhum permitiu que a parte "feia" da África fosse mostrada ao mundo.
    A guerra civil na República Democrática do Congo, que mata aproximadamente 45 mil pessoas por mês, na qual atrocidades sexuais contra mulheres congolesas vão "muito para além de violação" e incluem escravatura sexual, incesto forçado, e canibalismo foi completamente abafada, fazendo dos torcedores seres desinformados encantados com a política de "pão&circo".
    Laura

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  2. Reforçando o que escreveu a Laura, há estudos sobre a função do estupro em conflitos como essas guerrilhas que assolam certos países africanos. Sabemos que o estupro, em si, tem mais a ver com poder do que com sexo e essa realidade se torna ainda mais perversa quando se converte numa política de dominação em larga escala.
    Penso que daria um estudo interessante e útil investigar a função desses estupros, que em outra escala aconteceram, também, nas prisões brasileiras, no período da ditadura militar.
    Enfim, desviei do tema, mas ratifico a insurgência contra o pão e circo que a copa representa, num continente tão necessitado de outros investimentos.

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