quinta-feira, 20 de maio de 2010

O que é bom a gente valoriza²

Como em postagem anterior, não podemos deixar de valorizar o que é bom. Então segue um maravilhoso texto de Thaís Abreu, minha amiga distante.



"Óbvias e atuais verdades futuras

Caríssimos, venho através deste, expressar minhas últimas constatações em relação ao mundo.
É interessante não conhecer o que uma pessoa guarda por trás de tudo o que aparenta ser. Nunca se vê além de um estereótipo no primeiro contato. Algumas vezes, nem mesmo no segundo, terceiro, quarto, décimo... Confiamos cegamente na nossa própria análise mal feita do ser humano.
A menina “patricinha”, sempre bem vestida e com ar de superioridade, esconde medos, revoltas e necessidade de aceitação. O rapaz bagunceiro, sempre com boas piadas, tem em casa um pai alcoólico. A moça de bom coração e solícita tem a vida controlada pela mãe depressiva. O jovem inteligente tem sérios problemas de relacionamento, uma insegurança terrível, medo de gente. A senhora falante da lanchonete é profundamente carente, negligenciada pelos filhos, trabalhando para não enlouquecer. A louca deitada nas calçadas das ruas por que passamos, está grávida de cinco meses, vítima de estupro, violência, e PIOR, indiferença.
Quantos ao nosso redor precisam de uma mão estendida, um sorriso, um abraço ou uma boa conversa? Quantos muros nós construímos todos os dias? O que nos mantém ainda tão cegos?
Faço minhas as palavras do admirabilíssimo escritor Caio Fernando Abreu quando ele diz que é "tão estranho carregar uma vida inteira no corpo, e ninguém suspeitar dos traumas, das quedas, dos medos, dos choros."
O Fato, meu caro e falecido escritor, é que somos individualistas, não sei dizer ao certo se sempre fomos ou se isso é uma tendência contemporânea, mas temo em afirmar, desejando ardentemente estar errada, que estamos piorando.
A sociedade tem caminhado para o abismo da indiferença, perdemos o direito de nos indignar, aceitar ajuda tornou-se sinônimo de fraqueza, pobreza, pedir esmolas. Ajudar agora requer um estudo preliminar acerca do merecimento da pessoa necessitada. Já não sei mais o nome de meus vizinhos, chego do trabalho e me tranco em casa, buscando segurança, completamente neurótico e desconfiado. A violência nos afastou, a televisão reforçou, o medo aumentou, e nós estamos nos acostumando com isso. Fazemos justiça com as próprias mãos, autorizamos o governo a cometer assassinatos, negligenciamos o sofrimento alheio para aliviar o que nos incomoda, e a tudo isso chamamos ação, movimentação, democracia. Esquecemos o significado do perdão, perdemos a confiança uns nos outros, não mais sabemos o que é amar desinteressadamente, assistimos como entretenimento às doenças sociais. Acompanhamos nossas desgraças como a uma novela, damos nosso próprio julgamento aos casos alheios, para depois atirar pedras. Somos todos juízes, todos assassinos, todos responsáveis.
E depois dessa breve constatação óbvia e completamente visível a olhos nus e alma aberta, ouso questioná-los, caros leitores, como quem pede um conselho após confessar-se na igreja:
Devo pular neste abismo ou começar a construir minha ponte?
P.S: Sejamos, porém, cautelosos, pois, se estiver certo o Filósofo Nietzsche, o abismo já pode estar olhando para dentro de nós.
Atenciosamente,
Thaís Abreu."

2 comentários:

  1. hihi, só tem um errinho...
    O link do blog é: www.thaisrpabreu.blogspot.com

    Realmente inspirador ver meu texto sendo valorizado por tamanha mente pensante.

    :*

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